Questões Acerca da Finitude – 12
Oito de setembro de 2008, segunda-feira, 08:48h, hora de Brasília. Local: aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Astaroth fumava tranqüilamente o seu cigarro do lado de fora do aeroporto. Em alguns minutos o vôo da Lufthansa deveria taxiar na pista e em mais outros tantos o V.M.S.A. deveria ser recepcionado por seu pessoal no Brasil.
Observava, Astaroth, que ao longe, estavam seis Range Rovers estacionados e, igualmente, seis carros da “companhia telefônica” (que faz parte do sistema de inteligência de um certo Estado estrangeiro). O pessoal da Ordo Gnóstica, que levaria o V.M.S.A. até a Torre do Shopping Rio Sul, onde a Ordem reativou seu escritório, estava vigilante. O carro do V.M.S.A. e sua comitiva germânica atravessariam a Linha Vermelha rumo a zona sul do Rio. O esquema de segurança tinha sido pensado previamente e no centro iria o carro do V.M.S.A. Resulta óbvio que nossos companheiros da “companhia telefônica” não gostariam que algo acontecesse a figura do V.M.S.A., da Loja Saturno. Astaroth termina o cigarro e retorna para perto da comitiva de recepção. Uma alma caridosa lhe paga um café expresso e um pão com queijo polengui. Astaroth aproveitou a boa-vontade kantiana e cristã de seu ofertante e comeu duas médias ainda de pão com manteiga e outro café (“para reforçar” – disse Astaroth). Outra caridosa alma perguntou ao mestre “se um trago não ia bem”. Por certo, que Astaroth não iria deixar passar essa (tinha exatamente Dois Reais e Dez Centavos para ir a Universidade dos Espelhos, ao sair do encontro, e não sabia quando comeria novamente e nem quando beberia).
O gim com tônica desceu bem. “Para reforçar” Astaroth tomou mais um café expresso. Urgia que fumasse outro cigarro. Saiu. Ao retornar ao lado de fora do aeroporto encontrou os “técnicos” da “companhia telefônica” “reparando” algo no chão. Era o fim da picada. Precisava saber o que os agentes estavam a fazer. Aproximou-se de um Range Rover de placa CC (embaixadas e consulados estrangeiros, e final 44).
Astaroth se aproxima de um dos agentes da Ordo Gnóstica.
Astaroth: Bom dia, Frater. Não lhe ocorre de irmos dar uma olhadinha no que àqueles sujeitos estão a “consertar”?
Frater Íon era o nome do segurança.
Frater Íon: Bem, Senhor, ao que consta àqueles homens estão à serviço da empresa de telefonia local, não estão?
Astaroth percebeu que lidava com um agente de segurança novo. Pediu emprestado a Luger Parabellum do agente e ir ver o que acontecia. Obviamente, o agente o olhou desconfiado. “Arma, escova de dentes e mulher são coisas que não se emprestam” – disse Frater Íon. Astaroth, por fim, juntou Frater Íon e outro agente e se encaminharam para os imperturbáveis “técnicos da companhia telefônica”.
Astaroth: Bom dia! Somos do Departamento de Transportes Urbanos e Viários da Capital e me parece que seus carros estão mal-estacionados, ao que me consta.
Os dois agentes de segurança da Ordo Gnóstica entreolharam-se estupefatos. Pensaram juntos: “o mestre pirou na batatinha de vez”. Porém, o israelense (“técnico da companhia telefônica”) fala em claro alemão se não teria alguém que falasse português com o “distinto senhor” – se dirigindo a outros técnicos da “companhia telefônica”. Astaroth compreendera e disse em claro alemão que idioma para ele não representava obstáculo. O israelense continuava juntando uns fios daqui e outros dali de algum equipamento que nada tinha a ver com telefonia quando a polícia achou estranho o que se sucedia. Três agentes federais brasileiros, com mãos na armas, modelo 45, se encaminhavam devagar. O israelense sorria.
Israelense: Me parece que não é dessa vez, não é?
Astaroth: Vamos sair daqui lentamente, senhores.
Agente Federal: Alto aí, Polícia Federal! Parem!
Astaroth chega a conclusão que aquele dia estava começando mal demais.
Após todas as explicações e documentação da Embaixada “do Estado do Presidente” e também da do “Primeiro-Ministro” (sim, há dois grupos; um a favor e outro contra – o da “companhia telefônica” não se precisa dizer de que lado está, principalmente após a invasão da Geórgia por Putin) os agentes permitiram que os Range Rovers partissem.
11:21h de oito de setembro de 2008. Os Range Rovers da Ordo Gnóstica iniciam sua travessia. Engarrafamento a vista. Os carros da companhia telefônica seguem, igualmente, a uma certa distância. Os da Polícia Federal seguem a ambos os comboios.
A bordo do carro central V.M.S.A., Astaroth, Marruk, Frater Johanson e Frater Sveren (na direção – agente do Estado do Presidente) conversavam.
V.M.S.A.: Então, Astaroth, além de resolver fazer das suas no outro lado do multiverso resolveu nos ajudar atraindo a presença da Polícia Federal do Brasil como se, sinceramente, já não tivéssemos tantos problemas! Penso que você, Astaroth, não faz falta alguma a nossa Ordem, sabe?
Astaroth comia uns bom-bons que tinha achado no carro. O presente que algum diplomata americano daria a alguém estava, literalmente, indo para o estômago do V.M. Astaroth.
Astaroth: Sabe, S.A., uma das poucas coisas que gosto nesses encontros é da hospitalidade que os ricos tem para com os pobres e humildes como eu.
V.M. Marruk: Tenho certeza absoluta que esse não foi o Astaroth que conheci faz mais de vinte anos atrás. Peço desculpas por ele, V.M.S.A., pois ele, desta vez, vai nos falar a verdade acerca do ocorrido que nos levou, inacreditavelmente, a uma baixa na egrégora e a uma perda substancial de nossos fundos emergenciais.
Frater Johanson: Devemos lembrar que o V.M. Astaroth é o Rei dos Árias, no outro lado da realidade. Devemos ter por ele respeito.
V.M. Marruk: Com certeza, não se trata da mesma pessoa. Duvido que lá ele pense em comer o tempo todo, sinceramente.
Frater Johanson: O que ele tem a dizer é tão verdadeiro que os senhores aqui já estão a juntar as peças. Desta vez, o V.M. Astaroth vai lhes contar a verdade.
Um foto surge e é passada a Astaroth.
V.M.S.A.: O codinome dele é Nihil, não é?
Astaroth: É sim. Trata-se de um amigo. Fez filosofia comigo e não bate lá muito bem da idéia.
Convém que o esqueçamos. Tem mania de grandeza.
V.M.S.A.: Nossas experiências, com projetores conscientes israelenses, provam que essa pessoa é exatamente o novo manda-chuva lá de cima. E eu tenho razões para pensar assim, pois grampeamos todos os telefones dele e não ouvimos nem um ruído e nossos agentes se perdem dele com facilidade. Um dos projetores conscientes nos informou que ele tem a chave de Matrix e que pode, simplesmente, sumir e reaparecer em outra coordenada. Como vê, V.M. Astaroth, estou mais crente do que o senhor pensa.
Astaroth: Particularmente, penso que não deve levar a experiência de seus agentes projetores tão a sério. Quantos disseram a mesma coisa a você? Dois, três?
V.M.S.A.: Sete me disseram a mesma coisa. E me disseram mais. Me disseram que o Império não mais existe.
Astaroth: Okay, S.A., o que espera que eu faça? Os árias estão trabalhando a toda força num experimento de volta no tempo. É uma espécie de joint-venture com a República e temos Werner von Brawn e Max Planck no projeto. Todos os cientistas de Peenenmunde estão no projeto e temos, também, gente que dessomou recentemente, dos principais centros de pesquisa do mundo, trabalhando nisso com a nossa tecnologia. A questão é apenas uma: alterar o tempo terráqueo e sintonizar ele com um espaço de tempo anterior a besteira que Chavajoth fez indo procurar a República onde não deveríamos estar. Hoje a República é realmente a dona de toda a extensão de terra pertencente outrora ao Império. Eu sinto muito, S.A., a Ordo Gnóstica não tem mais egrégora. Creio que vamos fechar para balanço.
Frater Sveren: Porque não negociamos com o novo governante do multiverso? Astaroth é Rei ainda dos árias e republicanos. A questão é que não mais tem o poder de fato. Chamamos Nihil até um hotel qualquer e damos um cargo qualquer a ele. Tenho certeza que um dinheiro substancial compra a volta de nossa poderosa egrégora e poderemos voltar a trabalhar para os governos.
O dia foi gasto com as explicações de Astaroth acerca de tudo o que acontecera naquele mundo distante...
Faltam dois meses para o ano novo de 8583. Nas últimas semanas muitas coisas aconteceram. Chavajoth e Saphira Quartzo foram cercados e mortos por um comando conjunto das SS e das centúrias republicanas. Ashter intermediou a devolução da República ao governo de Nihil. Kamenev fez o handover. A cidade ariana, porém, manteria pequena autonomia. Um governo conjunto foi acertado. Astaroth fez a seção dos demais territórios. No tratado firmado, o antigo Império abdica de suas forças armadas. As SS passam a responder a República. A cidade ariana da quinta-infradimensão é, também, governada
Os volumes mais recentes foram todos encontrados perfazendo seqüências exatas de acontecimentos. Conseguira, Astaroth, documentos e relatos desde que tomou posse do destino dos árias em 8579. Curiosamente faltavam dois meses para 8580 quando assumiu o governo do universo e a Ordo Gnóstica, no plano físico. A data do fim de 2003 estava sincronizada com o tempo ária de forma perfeita, pelo historiador. Todo o governo Marruk estava separado em alguns volumes. Porém, o governo de Astaroth, embora menor cronologicamente, propiciou a formação de muito mais material para a história. Tudo, desde o governo Samael estava na Capela Negra. Teve curiosidade de saber mais acerca do passado. Foi a Grande Loja, onde os volumes anteriores relativos aos plenipotenciários que vieram antes de Samael estavam estocados.
Estranhamente, viu que haviam volumes diferentes em um canto. Um papel muito antigo os marcava. Estava escrito “arquivar”. Um dos volumes dizia
Dez de setembro de 2008, 10:45h, Hotel Copacabana Palace.
Astaroth: Mas, é o que lhe digo. É sério mesmo! Em 2061 acontecerá algo grave, que ainda não pude saber, a esta humanidade. Estive fazendo os cálculos e estarei com oitenta e oito anos!
V.M.S.A.: Olhe bem, não estarei vivo em 2061 e muito menos você que bebe, fuma e come tudo o que não presta por aí. O que me importa é o hoje. Conseguimos finalmente grampear os telefones do tal Nihil. Veja, nessa fotografia, se não é a noiva dele, sim?
Astaroth: A moça nada tem a ver com isso, S.A.! Olhe, dou-lhe aqui um número. Você pode conversar com ele. Pelo que sei está a precisar mesmo de dinheiro...
Frater Sohensen: ... Porque planeja casar. Estamos com o histórico dele. Roubamos de um pessoal da “companhia telefônica” que mandamos para o inferno esta noite. Veja bem aqui. Eles ficavam traduzindo tudo para o alemão e está bem aqui!
Fernando: Por que para o alemão e não para o hebraico ou inglês? Hum! Estou achando estranho!
Luciano entra na sala.
Luciano: Quero dar meus parabéns ao V.M. Astaroth, o faz droga das estrelas! Adianto que temos companhia neste hotel e das boas! Me digam cá se alguém se lembra desses dois cá desta foto instantânea?
Eram agentes da “companhia telefônica”. Entravam em ação sempre que havia alguém a ser liquidado pelo gabinete de Olmert. S.A. leva as mãos a cabeça.
V.M.S.A.: Astaroth, por amor a Satannas, o que você andou fazendo?
Luciano: Simples! O Estado de I. nos cobra os isótopos e uma máquina de replicação a base de carbono para ajudar no desenvolvimento da tecnologia dos transplantes de cérebro. Com a queda do Império, lá do outro lado, e a “morte” de Moshe Dayan e outros (agradeçamos a Chavajoth-Deus esse feito), nosso querido “Rei” não mandou os tais isótopos! Por amor a nossas vidas, você Astaroth, vai pegar esse telefone aí e ligar para Olmert agora mesmo! Fale que vamos entregar os isótopos e a máquina!
Astaroth: Alto aí! Eu mandei os isótopos sim, mas tivemos problemas sérios e tivemos que voltar!
V.M.S.A.: O problema é que não adianta mandar se nossos amigos não recebem, entende?
Astaroth liga para o embaixador, que é da “companhia telefônica”, igualmente, e explica que “a encomenda” chegará na sexta-feira sem falta.
Onze de setembro de 2008, 14:08h. Hotel Meridien. Restaurante.
Astaroth: Olhe, Sohensen, eu juro que esse rapaz, Nihil, gosta apenas de aparecer! Você acreditaria mesmo que ele morador do bairro de C. seria o governante do multiverso? Olha, se você contar essa estória para um psiquiatra vão dizer que você está em mania, rapaz!
Astaroth colocou mais da metade da porção de bifes no seu prato enquanto falava.
Frater Sohensen: Penso que ainda precisamos dele.
Astaroth: Deixe o rapaz em paz!
Frater Sohensen: Por que quer tanto proteger a ele? Me parece que ele sabe de algo que eu não sei e que S.A. não sabe, seria isso?
Astaroth: Ta bom, Sohensen! O cara é mesmo o governante do multiverso; satisfeito agora?
Frater Sohensen: A que horas a AE-325 chegará aos territórios ocupados?
Astaroth: O próprio Nihil me garantiu que às 22:00h de sexta-feira, 12/08. Mandamos comunicado ao governo do Presidente. A AE-325 deve passar despercebida e caso algum jornalista engraçado fotografe a astronave já temos um grupo de desinformação na área.
Frater Sohensen: Acho que você se arrepende de ter feito voto de pobreza.
Sohensen teve que pedir outra porção de bifes de picanha. Astaroth ainda devorou mais da metade do segundo prato, tomou dois cafés, três gim com tônica e saiu do Hotel Meridien às 17:00h. Caminhou até a residência do embaixador dos Estados Unidos e sentou em frente ao banco. Fumava tranquilamente seu Dunhill, que S.A. tinha comprado em sua passagem pela Inglaterra recentemente. O funcionário do consulado apareceu, e, como sempre, lhe perguntou se não queria algo. Não precisamos dizer que Astaroth aceitou a cortesia.
O historiador Tito Lívio, da Universidade Livre da República, explicava ao Rei que os livros tinham se perdido. Desde que Eliphas Levi fora o plenipotenciário esses livros não foram nunca mais vistos. Estava desolado. Partira para a dimensão cinza, porém Enervan I tinha sido destruído por Chavajoth quando da tentativa de invasão à Nova República. Teria agora que esperar que seus cientistas achassem um meio de retornar no tempo em algum ponto onde fosse possível resgatar os livros. Algo lhe dizia que em
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