Monday, April 20, 2009

Questões acerca da Finitude - 14

Questões Acerca da Finitude – 14

Continuamos a dois meses de 8583. Astaroth plenamente recuperado tomava cuidado em suas saídas e passeios pela cidade ariana. A Guarda Pretoriana tornou-se uma constante em sua vida. Descobriu-se que um novo culto, que não o de Chavajoth-Deus, surgira. Chamava-se Deus Sem Imagens e sua luta contra a República parecia ser porque a mesma aceitava a prática do politeísmo no reino. O atentado contra Astaroth significava a “morte” do maior sacerdote e líder dos politeístas. A Basílica Republicana ordenou que um maior controle de segurança fosse implementado nas cidades arianas e nas de cultos politeístas. Para os perímetros das cidades arianas principais destacamentos da Décima-Nona Legião e a antiga Luftwaffe, por ar, controlavam a movimentação nesses pedaços de terra. O culto de Chavajoth-Deus, embora ilegal, não tinha ligação com o atentado contra a “vida” de Astaroth.

Kamenev: Deus salve o Rei! Deus dê muita saúde para o Rei! Deus salve o Rei! Com licença, Majestade, poderia eu, um servo pequeno de vossa Majestade, entrar?

Astaroth: O que houve com você, Kamenev? Continua a ser embaixador, mesmo que o Império não mais exista!

Kamenev: Exato, e o Senhor continua a ser Rei. Antes que pergunte, o que me traz aqui são as movimentações no senado da República. Rufius Roncale quer que sejamos presos e julgados contra crimes cometidos contra o povo republicano. O Dictator nada fez para impedir Roncale de levar o assunto à votação. Precisamos que Ashter fale a Nihil que isso é uma insanidade! A queda do Rei e dos seus Embaixadores representará a queda do próprio regime da República. Insurreições explodirão por todos os lados, pois é o Rei que representa o Estado e a unidade territorial. Estou abismado com esse homem! Esse tal, Roncale, quer destruir tudo o que levamos quase dez mil anos de trabalho árduo para construir.

Astaroth não mudou de ânimo.

Astaroth: O medo é uma das piores coisas que podem acontecer a um homem digno e honrado. Kamenev, nós fizemos o que deveria ser feito e se nós não o tivéssemos feito não haveria quem o fizesse! Você acha mesmo que os anjos imaculados do empíreo sujariam suas mãos de sangue ou torturariam pela eternidade àqueles que precisem de correção? Alguém teve que fazer isso. Nós fomos os escolhidos para levar a ordem ao universo. O processo de Roncale beira ao absurdo e todos, em algum tempo, notarão isso. Porém, Kamenev, o medo é a coisa pior que pode acontecer a nós, árias! Se Roncale vai mandar nos prender, nos matar, nos condenar, não é disso que temos que ter medo! Temos sim que ter medo de deixar nossa coragem de lado. Enfim, vou falar com Ashter. Quero tanto quanto você que a situação permaneça como está e que continuemos a gozar de paz.

Kamenev: Eu não terminei, Rei. Preste atenção: esse movimento de Roncale não lhe parece uma forma de Nihil se livrar de nós de forma ética e dentro do Direito? Digo: respeitando maquiavelicamente o Direito Romano que adotamos. Lembro que ele disse uma vez que adotara intimamente o Direito Maquiavélico. Logo, ele orquestra uma “votação” no senado, através de um “adversário político” seu, que, aparentemente, deve ter sido ameaçado para assim proceder. O senado vota nossa prisão, julgamento e desintegração ou trabalhos forçados e ele, Nihil, torna-se Rei, Plenipotenciário do Universo. Com os avanços do projeto de matemática da oitava dimensão e a fabricação de um algoritmo que permita subverter a ordem nas dimensões superiores, esse Nihil poderia destronar o nosso Deus, Rá! Percebe, agora, Rei? Ele se faz de seu amigo, se faz de amigo do “Império”, se podemos dizer assim, mas, no fundo ele é tão sujo quanto qualquer um de nós! Tenho mais informações.

Astaroth: Prossiga. O que você diz tem sentido. Porém, antes que Ashter me diga a versão do lado da Basílica Republicana não tomarei nenhuma decisão.

Kamenev: Eles são espertos! Jogam com sua ingenuidade e nobreza. Talvez, quando tome alguma decisão, não só você, mas nós restemos numa masmorra imunda junto com judeus, árabes e republicanos cristãos! Imagine, Rei, passar a eternidade ao lado dessa gente fedorenta e monoteísta! Uma gente cujo deus não tem rosto para economizar mármore de estátua! Bem, a questão é a seguinte, interceptei relatórios da contra-inteligência da República. Dizem, os relatórios, com data recente, na cronologia deles, a gregoriana, de vinte e quatro e vinte e cinco de setembro de 2008, que se espera uma invasão das tais “astronaves brancas” que derrubamos algumas quando ainda éramos o Império. De alguma forma, a República se comunica com essa civilização e tem informação suficiente para prever um ataque. A República não tem medo, pois a “nossa Luftwaffe” destruirá a aeronáutica deles. A questão que resta é a que nos perguntávamos quando governávamos: quem são eles? Como conseguiram fabricar espaçonaves desse tipo? Nota-se que a tecnologia é híbrida, algo do fim do século XXII A.D., com a nossa e algumas falhas de projeto. Que civilização é essa? Essa é a questão. Outra coisa, (para terminar), esse novo culto, aparentemente oriundo dos cultos de Chavajoth-Deus e Zein-Glorioso e que se chama Deus Sem Imagens tem a nós como alvo. Para mim é outra estratégica de Nihil para se livrar de nós. Penso, Rei, com sinceridade, que deveríamos congregar os árias e expulsar as polícias e exércitos republicanos da cidade e mostrar a eles que sabemos de suas maquinações para nos destruir!

Astaroth: Kamenev, sinceramente falando nós não somos mais nada na nova conjuntura de governo. Isso em termos práticos – vamos dizer assim. Mas, somos a imagem do Estado. Não penso que Nihil seja a típica pessoa que dá tiros no pé. Em 8582 anos o vi agindo nos bastidores dos governos. Trata-se de pessoa prudente. Sabe que não ganhará nada nos destruindo e ainda vai ter que enfrentar rebeliões que estourarão de onde não se sabe onde e enfrentará a dissolução da República. Acredite, Kamenev, Nihil é a última pessoa que quer isso. Quanto ao senador, vou falar com Ashter e vamos saber o porque ele age dessa forma. Nada que uma boa conversa não resolva. E com relação a invasões e atentados, vamos esperar acontecerem e não ficar trabalhando sobre conjecturas! Agora, olhe, estou trabalhando aqui para tentar encontrar cento e vinte anos perdidos de história que são e não são passado para mim. São passado, pois estamos em um tempo muito diferente do dos humanóides e não são pois a minha representação física no planeta Terra ainda não viveu ou passou por isso. Me interessa, Kamenev, encontrar o que, de fato, aconteceu a humanidade terrestre após o grande cataclisma, que foi uma explosão nuclear ou a queda de um meteoro, ou asteróide, de grandes proporções na Terra. É necessário saber como o fim, ou o recomeço, dos humanóides em 2061, de certa forma, deu origem a nós que estamos aqui hoje, entende?

Kamenev: Está bem, está bem, vamos brincar de Deus um pouco enquanto não somos jogados na cadeia! O que quer que eu faça?

Astaroth: Bem, esse é o rascunho. Estou tentando calcular, com o auxílio deste computador ligado ao centro de processamento universal da capital ariana, um loop temporal quântico que nos permita retornar uns cento e vinte anos a partir do marco de 2008 A.D., entende? Isso coincide com o período no qual Eliphas Levi era Plenipotenciário da Capela Negra e do Mundo. Bem, se os computadores conseguirem, pelo menos, calcular o loop temporal (sabemos que os quanta – que determinados quanta – guardam a memória do que ocorre ao universo como um todo, de forma que tudo que está no macro está no micro), poderemos auxiliar nossos cientistas a montarem uma máquina de translação temporal. Marcaremos a data para a qual queremos voltar e, simplesmente, voltamos no tempo, entende?

Kamenev: Não vai dar certo.

Astaroth: E me diga o por quê?

Kamenev: Bem, a questão é simples. O tempo não é linear, cronológico. Ele apenas aparenta ser. Lembra da dimensão cinza? Lá encontramos o tempo como se estivesse entulhado sobre si mesmo e misturado. Essa é a prova de que o tempo não é linear. Nossa dimensão cinza é o que para os humanóides significaria a quarta dimensão, porém com um componente a mais. Na quarta dimensão dos humanóides o tempo toma a aparência cronológica, mesmo sem o ser. Na nossa dimensão cinza, acessamos todos os tempos simultaneamente e o cronológico é apenas mais um deles! Para nós, os estudos de Leibniz são mais que válidos, no sentido de que não temos tempo linear. Isto posto, é impossível voltar para onde jamais estivemos. O passado, na verdade, é formado de muitos passados, o seu, o meu, o do Acasha, o daquela pessoa ali embaixo que está tomando um carro de flutuação magnética. O universo, por isso, não é um só e tem infinitos paralelos gerantes de um passado próprio e um futuro próprio com presentes próprios. O que pertence ao passado, Senhor, não mais existe.

Astaroth: Quando o Absoluto, Senhor dos Senhores, criou o universo deve ter garantido a ele uma linha temporal teleológica que garantisse sua existência. Isso me parece racional.

Kamenev: Está se deixando seduzir pelo que dizem os republicanos cristãos, judeus e árabes. A garantia de racionalidade deles esconde o absurdo de se pensar assim. Senhor, com todo o respeito que lhe devo, o tempo não é apenas um! O tempo é formado de muitos tempos, de muitos instantes, de muitos infinitos e paralelismos. O quanta não pode abrigar em si o que não pertence a seu universo! Pense, Senhor, se pode voltar a Capela Negra de 8579? Não, pois intervalos superpostos de tempo e atividade fazem com que esse lugar não mais exista, da forma como o era! De toda forma, se insiste em perder o seu tempo com essa matemática abstrata que não leva a lugar nenhum eu o ajudo, mas, acredite, Senhor, esse trabalho em cima da máquina do tempo é pura perda de tempo! Ao contrário do projeto de matemática da oitava dimensão.

Astaroth: Mas, aí é que está, Kamenev! Em algum momento da história, os árias chegarão a síntese, ao algoritmo; enfim, vislumbrarão a pragmaticidade da matemática da oitava dimensão. O controle, a chave, enfim, que nos revele como funciona o que chamamos sobrenatural, e mundos superiores, nos tornará no próprio Absoluto, e nada é impossível para o Absoluto!

Kamenev: Está falando do Absoluto gerador de todas as coisas? Bem, você parece estar certo, porém, comete um erro: o de prescindir de que houve um início. O tempo não tem início, pois é fruto de si mesmo. Compreenda. Não se deixe levar pelos malditos e metafísicos cristãos! O domínio da matemática da oitava dimensão não nos dará a chave do tempo. O máximo que fará é tornar a nossa ruína, pessoal, infalível. O que mais Nihil precisará depois disso? Você está sendo ingênuo.

Astaroth: Vamos lá, Kamenev, se eu e os monoteístas estivemos certos, então, poderemos voltar a uma dimensão do tempo onde ninguém poderá nos pegar para julgamento e onde não seremos importunados. Podemos, até mesmo, após o experimento, programar a máquina para que se auto-destrua e apague os registros dos computadores. Dessa forma, estaremos a salvo.

Kamenev: Sabe, Astaroth? Conheço você há quase dez mil anos. Você, realmente, ama Ashter Solis. Acho, que se Rufius Roncale, realmente, conseguir nossa condenação, sua esposa intercederá por você, e apenas por você, enquanto nós embaixadores seremos responsabilizados por tudo. Bem, perdi meu tempo vindo aqui. Vou falar com os outros embaixadores. Temos que agir rápido antes que Nihil nos destrua.

Torre do Shopping Rio Sul. Bairro de Botafogo. Cidade do Rio de Janeiro. Vinte e seis de setembro de 2008. 10:50h, aproximadamente.

Luciano: Olha, não entendo muito dessas coisas, mas parece que alguém se comunicou conosco e não é humano. Veja isso. Enviamos as análises para nossos especialistas.

Astaroth ouviu a gravação eletrônica. A língua usada na comunicação eletrônica era o aramaico antigo. Ora se usava outra, o latim. Quanto ao latim, Astaroth notou que o latim era culto e bem encadeado. Enfim, decifrou a mensagem ao fim do dia junto com um especialista em línguas e dialetos mortos que mandou chamar, da universidade local estadual, e que era gnóstico. Não havia mais o que se fazer. Os longos dias sem acessar os planos superiores e as tentativas de seus embaixadores de se comunicarem, que restaram em vão, fizeram com que falhasse na missão. O corpo de Ashter Solis bebê descia a uma sepultura cristã em algum lugar do mundo naquele momento; pois que parara de ouvir ao compreender que o Projeto Ashter Solis falhara. Agora a questão é saber o porque. Lembrava-se, agora, do que Kamenev lhe dissera dois ou três dias antes. Tinha que descobrir quem desativou o corpo físico de Rachel Tamarini Hiroshi e se isso tinha relação com a seita Deus Sem Imagens, com a civilização que estava a ponto de entrar em guerra com a República ou se... Se fosse algo realmente, mas realmente, muito mais assustador e poderoso! A quem interessaria a morte de Ashter, que vinha trazer a luz de Rá para a humanidade doente? Começava a fazer sentido. Astaroth investigaria tudo o que a República poderia saber sobre o novo e ilegal culto, Deus sem Imagens, suas ligações possíveis com a civilização inimiga e seu repúdio ao politeísmo. Os seguidores de Chavajoth e Zein jamais seriam contra o politeísmo, pois odiavam, igualmente, não só os cristãos, mas os monoteístas. Não. A seita Deus Sem Imagens era um produto da doença que é o cristianismo ou qualquer forma de monoteísmo. Era necessário saber, também, até que ponto eles, cristãos como os republicanos, não estariam infiltrados nos escalões do poder e com acesso ao kernell de Matrix. Somente com o desligamento dos sistemas vitais controlados por aparelhos extrafísicos, o macrossoma de Ashter deixaria de funcionar. Para desligar os aparelhos, seria necessário passar pelo magista Vossirianonovoskaya e seu amigo de armas Konsatev. A não ser que alguém o fizesse direto da Capela Negra. Se “sim”, então, quem? Nenhum politeísta faria isso. Ashter é filha de Rá. Um politeísta não se meteria com a própria divindade. Voltando ao raciocínio. Somente alguém “autorizado” e monoteísta faria uma coisa dessas (tanto nas hipóteses “extrafísico no físico” quando “extrafísico no astral” seria necessário passar por pessoal autorizado – no caso de se ter desligado os aparelhos a partir do quadro de comando da Capela Negra). No astral, se teria que passar pela Guarda Pretoriana, por Embaixadores da Capela Negra, por médicos do corpo de cientistas do antigo Reich, por técnicos, engenheiros e imediatos. Mas, como? Os aparelhos são monitorados por médicos arianos dia e noite (além do pessoal técnico de suporte). Não. A hipótese de que tenham sido desligados a partir da Capela Negra estava descartada. Então, porque se demorou a agir quando se notou que o suporte vital de Ashter tinha sido desligado? O que, afinal, acontecera realmente? Vossirianonovoskaya. Por quê ele permitiu? É necessário ouvir tanto a Vossirianonovoskaya e Konsatev e saber como o magista permitiu que o corpo físico de Ashter Solis bebê fosse desativado. Ainda tinha a questão da alma de Ashter, que ao contrário das almas humanóides é imortal, pois que é a alma de uma deusa infundida por Rá. Por certo, a própria Ashter já deve estar de posse de sua alma (o Real-Ser que é ela mesma, por ser uma mestra branca, a recolheu). Levaria tempo, novamente, para descobrir uma família perfeita para Ashter, a luz de Rá, na qual ressomaria novamente. Uma família onde houvesse ambiente propício para o desenvolvimento de uma alta inteligência – anos luz além da dos humanóides. Três anos de atraso na profecia. Rá não ficaria em nada satisfeito em saber que monoteísmo desfechara mais esse duro golpe no politeísmo, na paz e no progresso da luz. Astaroth tece esses questionamentos consigo mesmo na “área de fumantes” do Shopping Rio Sul, e, desde vinte e quatro ou vinte e cinco de setembro deste ano de Nosso Senhor não tem notícias, qualquer notícia, do que está a acontecer do outro lado do multiverso. O que mais poderá acontecer?


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