Thursday, July 16, 2009

Aristóteles e as Considerações acerca do Tempo

por Homero Fraga Bandeira de Melo – Professor de Filosofia

Artigo Escrito para a Edição de Junho do Jornal Ganesha

Aristóteles inicia a parte referente ao tempo indagando acerca dos planos e dificuldades de se entender a questão. Primeiro: o tempo está ao alcance das coisas que existem; ou está no âmbito do que não existe? Segundo: qual é a natureza do tempo? Para começar a nossa reflexão acerca da existência ou não do tempo devemos considerar que se o tempo existe (se for possível a sua existência), este deva se dar de forma obscura. Uma de suas partes deve existir, mas, a outra tem existência obscura. Todo o tempo como tal existe de forma obscura. Podemos pegar o tempo infinito, ou qualquer tempo que seja (uma fração do tempo ou de tempo) e veremos o quão obscuro ele nos parece (pois não nos aparece, não é de forma alguma tangível). Fazemos ao longo de vinte e cinco séculos de filosofia uma tentativa de categorizar o tempo seguindo a lógica do velho Aristóteles, em termos do ordenamento das coisas, levando-se em consideração de que o tempo seja alguma coisa, e que talvez seja tangível. Desta forma, poderemos acabar considerando que, o que quer que seja que não possamos demonstrar, necessariamente, não existe (ou não tem lugar na realidade – que é “dita”, ou “composta” pela linguagem).

Se dizemos que uma parte de um todo (que é alguma coisa) existe, então, necessariamente, a sua outra parte deve existir. Mas, no caso do tempo algumas de suas partes têm existência, outras virão a existir, e uma de suas partes já não existe mais, pois se tornou passado. Nos diz Santo Agostinho que o passado existe somente na memória, pois nada mais é, na medida em que só o presente é (se podemos dizer que o presente seja alguma coisa). Podemos dizer, ainda, que o tempo é, então, divisível. Mas, o “agora” não é necessariamente uma parte do tempo, pois as partes são mensuráveis, e o tempo tem que ser formado por partes mensuráveis. O tempo, de toda a forma, não pode ser formado por uma infinitude de “agoras” (instantes, tempos presentes).

Sabemos que o instante existe. Sabemos que o instante não é o tempo. Mas, não sabemos o que é o instante. Podemos até dizer que o tempo é formado por instantes, mas nós sabemos que os instantes não formam uma sucessão qualquer que seja devido a sua extrema singularidade! Cada instante é único e jamais se repete! Então, a pergunta que se inicia nos primórdios de nossas mais nobres raízes gregas permanece tal qual esfinge a querer nos devorar, e o pior: sabemos que há instantes, então, o que é o instante? Além de não sabermos o que é o tempo, ainda arrumamos mais um problema, pois o “instante” não é o tempo, mas, não sabemos o que é, nem do que é feito, nem se existe com a mesma realidade dos objetos materiais que podemos classificar em gêneros, categorias ou espécies. A pergunta do tempo fica mais elaborada na medida em que ao longo de sua aparente sucessão pensamos e re-pensamos no seguinte sentido: se admitirmos que o tempo seja “alguma coisa”, então, devemos admitir que seja composto “por algo”, se admitimos isso, então, retornamos a nossa pergunta de forma mais forte e mais interessante. Desta forma, poderemos perguntar: do que é composto o tempo? Ou como a física de nossos dias pós-einsteinianos se arroga de perguntar: o que dá existência ao tempo?

Quanto tempo o tempo dura? Um dia sempre será diferente em duração, de outro dia, pois as velocidades e os movimentos da vida nunca se encontram, ou são tardios ou ainda não chegaram. Ou ainda não são, ou ainda não foram! Temos que levar em consideração, ainda, que, o agora nada é, e o futuro não existe, pois não é. De toda a forma, o agora não será, pois, em pouco tempo ele se converterá em passado que só existe, parcialmente, na memória, ou seja, o passado também não é. Temos que dizer também, que os vários agoras que se tornaram passado não ocorreram de forma simultânea, e, que são sobrepujados pelo agora deste instante, que nada é, por não ser mensurável. A única saída (a que nos parece possível) é que o “agora” (o instante) não deve (não pode) ter um fim em-si-mesmo (desde que exista), e, desta forma, o agora não deixa de existir na sucessão de instantes.

Podemos, talvez, dizer que o instante é a diferença entre um fotograma e outro em uma projeção de cinema. Ao fim de tudo, nos sobra a pergunta: qual é a duração do instante? Como nos traz Santo Agostinho, as coisas quando trazidas novamente à memória mudam, ou seja, em uma clara antecipação de Husserl, O Bispo de Hipona nos diz que a visada da memória é em função de um novo objeto, e é um novo objeto, visto a partir do instante do presente, mesmo que seja apenas lembrança. Ou melhor: as lembranças se presentificam! Melhor ainda: a única possibilidade de visitar o passado é a partir do presente, que, pelo fato de estar na intersecção também não tem existência palpável que não seja obscura.

Homero Fraga Bandeira de Melo

Professor de Filosofia

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