Saturday, October 10, 2009

Acerca do Lugar da Verdade

Acerca do Lugar da Verdade – Razões de Verossimilhança e o Modelo Falso

por Homero Fraga Bandeira de Melo – Professor de Filosofia

Artigo Escrito para a Edição de Setembro do Jornal Ganesha

Onde se situa a Verdade? Podemos imaginar uma possível continuação do diálogos Fedro e Fédon de Platão, onde Sócrates no inferno possa ser perguntado acerca do sentido da verdade, ou melhor, o que serve melhor no inferno: aspirar a beleza ou a verdade? Qual deve ser o ideal da vida? Sócrates, Platão, Aristóteles e Cristo aspiraram ser chamados Mestres. Que me desculpem os policiais do pensamento vigente, mas, mestre do quê, e de quem? A palavra Mestre designa aquele que comanda, governa, tem poder, ou é autoridade (como na maçonaria, no rosacrucianismo, no gnosticismo). Mestre, também, é aquele a quem uma dada comunidade imputa o saber, que na verdade é suposto.

A verdade no mundo judaico-cristão da atualidade, ilustrado pelas ficções tecnológicas da propaganda, propõe-se à objetividade. Que objetividade? O que há além da máquina de produzir verdades? Outra máquina de produzir verdades. Da mesma forma, então, a palavra não pode dizer a verdade, pois ser verdadeiro é ser tautológico, ou seja é dizer que: dois é igual a dois, Sócrates é igual a Sócrates, a justiça é a justiça, etc...

Só podemos dizer pela diferença; ou seja: dois é diferente de três, Sócrates é grego, a justiça é a arte de falsificar a lei, etc... Então, a linguagem constitui o mundo do falso. Com a linguagem podemos dizer qualquer coisa. Os sofistas nos ensinam que qualquer coisa pode ser verdadeira, pois a verdade faz parte do mundo do falso. Então, os sofistas nos dizem: a quem me der dois Drachmas, eu digo que Sócrates é inocente. Mas, se alguém me der quatro, eu digo que é culpado, pois essa senhora chamada verdade mente! E isso é a sociedade política, uma sociedade antinatural; uma sociedade de acordos!

Antes o poder centralizava-se em torno do palácio real, e as máquinas convergiam para ele. As máquinas de opressão do povo desde cedo se configuraram. Primeiro com a divinização do sacerdote, depois com a divinização do faraó, então, a divinização do faraó dá origem a criação da palavra eficaz (a que diz o que é; a que produz efeitos de sentido); toda uma constelação, desta forma se espalhou em torno do palácio, montando andares da máquina de controle e opressão.

A invenção da polis grega por entre os séculos VIII e VII a.C. marca um começo de vida social nunca antes visto: nasce o Estado político, o estado de mediação que visa o bem comum de todos os que vivem na cidade-estado e que possam ser reconhecidos como cidadãos. Surge a contradição. Agora a palavra deixa de ser eficaz, ela é contraditória, e a dialética passa a ser o veículo de expressão da contradição. A dialética é a forma, a ciência, que põe a verdade nas mãos do orador. Junto com as disputas, o homem grego aperfeiçoa a escrita fenícia e através da produção de livros passa a armazenar nos mesmos a memória do conhecimento adquirido, para que este possa servir a um bem comum.

Para Platão o tipo ideal de conhecimento encontra-se nos objetos eternos e na estrutura lógica e coerente da geometria. Platão alicerça a verdade no mundo da alma imortal e infinita, que provém do mundo invisível, e, que, está apenas temporariamente alojada em um corpo, em uma atmosfera física.

Platão criou vários personagens em seus livros, e estes, dependendo do contexto, variavam conforme os interesses do que Platão tencionava demonstrar. Nesse sentido, Sócrates foi dos personagens de Platão o que mais faces, ou variações apresentou. Desta forma, podemos dizer que Sócrates foi o que Platão queria que fosse, ou seja, mero personagem a ilustrar sua filosofia-teológica. O Sócrates inventado por Platão viverá através dos séculos. Sócrates permanece vivo no meio daqueles que coadunam com a sociedade de acordos e pactos.

A máquina cristã de domínio ideológico foi mais bem sucedida que a criada por Platão, pois a máquina cristã o absorveu. A máquina cristã de produzir o falso incorporou a si, como se sua produção fosse, a teologia platônica e as categorias aristotélicas usando de um dos argumentos mais fortes do cristianismo: Cristo morre pela humanidade inteira; enquanto Sócrates morre por Atenas e pela filosofia.

Sabemos pelos relatos dos historiadores, e devido aos avanços das técnicas historiológicas, que Sócrates não foi um homem inspirado. Entretanto, Platão desejava por a sua filosofia nas mãos de outro: de um personagem. Pois Platão, a exemplo dos sofistas não cria na verdade. Platão sabia que só o falso é verossímil, pois tudo são simulacros (a verdade está com os deuses, e eles não a repartirão com os homens: eis a tragédia grega, viva a tragédia!). Sócrates, morto, agora redivivo pela literatura platônica, diz o que Platão não pode dizer, pois Platão não diz, não afirma, e também não diz que não, ele apenas aponta; você vai se tiver coragem. Sócrates é o personagem ideal, é o ser moral que se instaura em seu juízo próprio de valores em busca do bem, e da verdade, dizendo que as plantas, o vento, as montanhas e os sofistas não tem nada a lhe ensinar. Triste personagem em busca de um objeto em um quarto escuro, objeto esse que não se encontra mais onde ele procura, mas, falta coragem ao Sócrates de Platão para jogar xadrez com os Deuses. Talvez Sócrates prefira os jogadores da Praça Saens Pena, mesmo que desdenhe deles.

Homero Fraga Bandeira de Melo

Professor de Filosofia

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